quinta-feira, 12 de junho de 2008

Missão Botânica - Missão Académica a Angola - 1927-1937


"Em 1927, o Professor Luíz Carrisso iniciou a primeira de três explorações extensivas da paisagem e flora africana, que culminaram com a sua morte no ano de 1937, em pleno deserto de Moçamedes. Destas viagens, resultaram materiais tão diversificados e abrangentes quanto o seu real valor museológico. Fotografias, filmes, objectos etnográficos, colecções de herbário, produzidos nos anos 30 sob o regime do Estado Novo, são os elementos que, por ocasião do septuagésimo aniversário do seu falecimento, integram a presente edição.
Missão patriótica assente no princípio de “ocupação científica” do território africano aliou o poder da imagem, comummente associada ao domínio da representação estética, à política enquanto instrumento de conquista territorial.
Desejo de classificação, de ordenação, de domesticação de um mundo, que então se afigurava como um outro - sempre outro - espaço caótico e ilegislado.
Imagem constitutiva de uma outra ordem, que pretende inscrever a ideia de identidade nacional num vasto império ultramarino.
A desconstrução da relação entre saber e poder, os tipos de discurso e a sua vinculação ao modelo propagandístico e colonizador.
Os lugares, as plantas e as pessoas comuns, o extraordinário vínculo que os une e que nos une.
E o infigurável esquecimento."

Luíz Carrisso e as suas missões botânicas a Angola

Entre 1927 e 1937 o botânico Luíz Carrisso liderou três missões a Angola: a primeira e terceiras botânicas; a segunda, com uma vocação assumidamente propagandista.
Durante estas missões Carrisso, um fotógrafo com algumas qualidades, recolheu algumas dezenas de milhar de espécies vegetais, fotografou amplamente a realidade colonial que o interessou e um dos membros da missão filmou um filme, mudo, de pouco mais de meia hora.
Os materiais recolhidos por estes investigadores - que à sua época falaram em "colonialismo científico" em Portugal - abrem-se agora à leitura dos investigadores contemporâneos. Além das leituras que podem suscitar, a natureza do diálogo que se pode estabelecer é fascinante mas não isenta de uma irritação que por vezes agasta quem lê, olha e é confrontado com a narrativa da Propaganda. Dizemos nós após a leitura e a visão que nos oferece "Missão Botânica Transnatural", que, em 2007 - e para assinalar os 70 anos do desaparecimento do cientista da Figueira da Foz - Paulo Bernaschina publicou na Artez.