segunda-feira, 23 de agosto de 2010

“O modo português de estar no mundo” - I


A asserção "Do Minho a Timor somos todos portugueses" assinala uma mudança no modelo político colonial português. Até à década de 40, inclusivé, este teve subjacente uma visão antropobiológica - que definiu um padrão de raça portuguesa e opôs-se à miscigenação - disseminada pelas figuras referenciais das escolas antropológicas de Coimbra e Porto, Eusébio Tamagnini e Mendes Correia respectivamente. O regime reconhecia alguns direitos e dava certas garantias aos povos “primitivos”, promovia a sua “nacionalização” impondo-lhes serem portugueses mas o “darwinismo social” mantinha-se dominante e estava patente na concepção rácica do negro como um “reservatório de energia”.
Com a revisão constitucional de 1951, devida à emergência do anti-colonialismo pós II Guerra Mundial, abandonam-se os conceitos de império e colónia. Tal é consagrado na Lei Orgânica do Ultramar de 1953, que reflecte um princípio integracionista e reforça a unidade do território metropolitano e ultramarino. Ao conceito de império sucede o de nação multiracial e pluricontinental em que todos os territórios são Portugal e constituem a Nação.
Sarmento Rodrigues, ministro das Colónias desde 1950, acciona a reforma administrativa não descurando a reforma ideológica do modelo político colonial. Este assimila então - adaptando-o e despojando-o da perspectiva sexual - o luso-tropicalismo, teoria do sociólogo Gilberto Freyre, sobre um multiculturalismo assente num denominador comum: a especificidade da adaptação do português e sua cultura a ambientes tropicais.
Nas actualidades de propaganda a mutação ideológica no modelo colonial traduz-se na escolha das notícias relativas a Portugal e ao Ultramar, no teor dos textos da narração e na selecção dos locais filmados.

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